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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

RIO

  • Fábio Vasconcellos 
RIO - Ao pé da letra, rolé significa “pequeAtualizado: no passeio, volta”, mas, na prática, a reunião de adolescentes dispostos a ocupar shoppings para brincar, azarar e curtir. Tal como São Paulo, os jovens cariocas convocaram também suas turmas para os rolezinhos dentro dos shoppings. Uma atitude que foge da cultura praiana do Rio, com sua orla ocupada por diferentes tribos e, desde sempre, ponto alto de encontros de amigos e desconhecidos.
Não é pouca coisa. Em toda a cidade, são 7,3 milhões de metros quadrados de praças, parques e jardins, mais 106 quilômetros quadrados de praias. Essa característica talvez explique por que, por aqui, os rolezinhos nunca se caracterizam como em São Paulo.
Rosana Pinheiro-Machado, professora de antropologia da Oxford, acredita que esse comportamento tem a ver com as outras área de encontros disponíveis no Rio, mas também com o funk de ostentação, que é mais forte na capital paulista e muito cultuado pelos jovens. Mas ela lembra que os garotos dos subúrbios cariocas sempre foram aos shoppings.
- Em São Paulo, apenas se configurou um fenômeno por causa do volume e da dimensão que tomou. Houve uma maior articulação de fenômenos que levaram à formação dos rolezinhos. Mas é falacioso não ver rolezinho no Rio. Não podemos esquecer que rolezinho é a ida em grupo de jovens da periferia aos shoppings. A meninada do Rio também faz isso, namora e brinca - diz Rosana.
Com toda essa área livre, por que os jovens do Rio aderiam agora ao rolezinho ao estilo paulista? Como fenômeno social novo, cientistas sociais ainda analisam os acontecimentos recentes a procura de uma explicação. Mas há alguns hipóteses que começam a ganhar corpo. Cientista política da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e estudiosa de temas como consumo e pobreza, Sonia Fleury acredita que o Rio copia São Paulo por solidariedade.
- No Rio, os rolezinhos ganharam um caráter político. Assim como ocorreram nas manifestações de junho do ano passado. Primeiro, houve uma reação forte em São Paulo, especialmente por parte da polícia; depois, atos de solidariedade que se disseminaram por outras cidades. Portanto, o rolezinho em shoppings do Rio tenta denunciar o que os jovens consideram uma ação que vai contra um direito seu de ir e vir. Muitas vezes isso está amparado num preconceito, porque se trata de jovens negros e pobres. Não descarto essa possibilidade de os ‘rolezinhos’ também ocorreram nas praias. Aqui, tudo acaba em praia, e isso pode acontecer. Mas se acontecer deverá também ter esse caráter político — diz Sonia.
A escolha dos shoppings obedece a uma outra lógica, segundo os pesquisadores. Esses centros comerciais são uma representação da cultura do consumo, que também é apropriada pelos jovens. Sociólogo pela Sorbonne, o professor da Escola de Comunicação da Uerj Ricardo Freitas analisou o comportamento dos frequentadores de shoppings no Rio e em Paris, e chegou a uma conclusão que diz muito da história recente do Rio. Na avaliação de Freitas, os ‘rolezinhos’ dificilmente seriam marcados nas praias porque aqui os shoppings são vistos por seus frequentadores como uma local seguro e preparado para o consumo.
— Na pesquisa, os franceses afirmavam que iam ao shopping consumir porque era um centro comercial perto das suas casas. O importante era a proximidade. No Rio, o argumento mais usado foi a questão da segurança. As pessoas se sentem seguras nesses locais. A meu ver, existem dois componentes na escolha dos shoppings como lugar de ‘rolezinhos’. Os jovens estão muito envolvidos com a cultura do consumo, e querem ser identificados assim, como pessoas que podem consumir. Na praia, a ideia poderia ser outra. Um grupo de jovens fazendo ‘rolezinho’ no calçadão ou na areia da praia poderia ser confundido com um arrastão, e não é assim que eles querem ser identificados — explica Freitas.
O antropólogo Carlos Alberto Messeder, consultor da Dexgrup Comunicações e estudioso da cultura carioca, tem avaliação semelhante. Para ele, o ‘rolezinho’ é uma estratégia que atende também à ideia de visibilidade, e ela tem que estar associada com a capacidade de frequentar locais de consumo. Embora concorde que a atitude contrarie um pouco a cultura praiana da cidade, Messeder argumenta que muitos espaços públicos não estão vinculados a ideia de consumo.
— O shopping é lócus de visibilidade da sociedade de consumo, de status. Poder frequentar esse lugar e com roupas de marcas é poder também simbolicamente fazer parte desse universo, ou seja, de um universo privado e de acesso a bens. Na praia você tem uma mistura de tribos. Não é um lugar identificado com o consumo, o status. Ao contrário, é um lugar mais democrático. Quando tentaram fechar a Praia do Forte para fazer uma festa particular um tempo atrás, houve uma reação forte dos cariocas. Eles não aceitam isso, porque a praia é um lugar público — afirma Messeder.


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